Acordei cedo aquela manhã, diferente dos outros domigos, eu sempre aproveitava para dormir mais do que meu corpo necessitava, uma questão de preguiça, acho. Mas algo me havia feito rolar nos lençóis, e achar o barulho dos pássaros cantando, irritante demais para continuar ali. Decidi levantar então, e uma súbita vontade me fez achar que nada estava normal. Convenhamos, caminhar às seis horas da manhã no Domingo é uma vontade surpreendente para alguém como eu, assim, tão sedentária. Mas enfim, decidi que iria me privar do sono somente por hoje, e seguir meus recéns descobertos instintos aventureiros. Preparei-me então, para passar um dia inteiro naquela trilha que estava à onze quadras de casa. Deixei um bilhetinho avisando meus pais, e saí.
Só para constar, eu sempre exagero um pouco, mas desta vez, admito que foi demais. Eu tinha levado coisas que definitivamente não iria usar. E para comer, eu diria que minhas opções não eram consideradas naturais, mas vamos relevar, afinal, eu nunca fui do tipo “garota escoteira”, ou talvez “amiga da natureza”. Sempre preferi ficar no conforto de minha casa, com aquele clima aconchegante que a lareira proporcionava, e na companhia daqueles que sempre foram meus melhores amigos: os livros. Poisé, eu nunca fui uma garota de muitos amigos, na verdade, eu acho que até hoje, só tive bons colegas, é, apenas bons colegas. E os livros me proporcionavam uma aventura atrás da outra, e o melhor, sem sair de casa!
Por isso que eu caminhava me perguntando o motivo de estar ali, indo em direção ao desconhecido, habitado concerteza por muitas aranhas. Ahhh, aranhas, min has piores inimigas. Eu nunca entendi o meu medo por aranhas, afinal, eu podia matá-las facilmente, mas havia algo em mim que travava toda vez que eu via um inseto com oito pernas ou mais. Acho que o fato de elas terem mais pernas que eu, me fazia pensar que podiam correr mais rápido, ou sei lá. Só sei que era melhor eu não encontrar com nenhuma no caminho, fala sério, ninguém quer ter um infarto com dezessete anos, e pior, no meio de uma floresta pouco visitada. Quando terminei minha suposta conclusão sobre meu inexplicável medo, havia chegado no começo da trilha. Foi aí que pensei: “a aventura começa agora”, dei meu primeiro passo em direção àquele lugar que não me agradava aos olhos, e seja o que Deus quiser.
Vocês tem de concordar comigo neste aspecto, o ser humano, por mais que não perceba, está sempre buscando o perigo, e contrariando seus ideais. Acho que é uma das nossas principais características. Afinal, se eu tinha medo, por que estava ali? É, realmente somos estranhos e tolos, mas enfim, estamos longe de ser perfeitos.
Minha primeira experiência fora dos aconchegos do lar, tenho de admitir, estava sendo prazerosa, acho que era a tal da endorfina fazendo seu trabalho. Realmente, não parecia ser tão perigoso assim, axo que era apenas fruto da minha “nada fértil” imaginação. Eu estava até gostando de caminhar por aquele lugar, era legal, com todas aquelas folhas caídas no chão, e era de um tom agradável, realmente aquele lugar ficava bonito no outono. Mas apesar disso, eu ainda pensava na minha cama, na lareira quentinha, nas comidas deliciosas que minha mãe iria preparar se eu fizesse chantagem emocional, sabe, essa técnica nunca falha, é só você dizer que sente falta do colinho de sua mãe, dos cafunés, que ela corre para te agradar. Mas aqui, para quem eu iria fazer carinha de “cachorro que caiu da mudança”? Ok, ok, vou parar de reclamar, já estou ficando repetitiva!
E então, algo chamou minha atenção, algo realmente impressionante, que me fez largar tudo que eu estava segurando. Era uma coisa repugnante, e assustadora. Imagine você, milhares de aranhas, de cores e tamanhos diferentes, que saiam de um buraco numa árvore, e andavam em fila, em direção à um lugar que eu concerteza não gostaria de conhecer. Era muito apavorante esta cena que eu estava presenciando, e eu senti o solo girar em baixo de meus pés. De repente tudo transformou-se em um borrão de cores e formas, e eu senti meu corpo atingir o chão. E depois disso, não lembro de mais nada.
E hoje, quando acordei, estava em casa, curiosamente viva. Deitada em minha cama, aquecida sob minhas cobertas. Não sabia se aquilo realmente havia acontecido, ou se fora apenas um sonho, mas uma sensação estranha estava presente em mim. Não medo ou dor, uma sensação que jamais tivera, e que de fato era boa. Meu sangue parecia estar refrescante sob a pele, e eu me sentia incrivelmente forte. Senti uma ardência em meu braço, assim que estiquei-o. Olhei confusa para ele, procurando alguma cicatriz, e nada encontrei.
Nesse momento minha mãe entrou no quarto, trazendo com ela um médico. Médico? Para que? Foram as perguntas que fiz à ela. Eles deram um sorrisinho, que a princípio me irritou, mas que depois eu entendi. Depois, só depois dos testes que fiz, e que descobri que jamais seria a mesma, não por que havia perdido o medo de aranhas, ou coisa assim, mas porque uma delas havia me picado, e me dado poderes que eu nem imaginava que um dia pudesse ter.
CONTINUA...
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